Bem, limbos têm sexualidade, sabiam? Pois eis que, como já havia trafegado em toda espécie delas, ao longo dos anos, associam-me à insensibilidade- afinal, uma vez habitada por almas negligenciadas, eu, limbo, não posso, aos olhos dos outros ( e aos de quaisquer sexualidades), expressar qualquer atitude passional sem soar aterrorizante e desdenhoso. Certo. Lembro-me sempre do que sou, vocês sabem.
Eis que, na minha paixão ( não riam, limbos são furiosos!), fui bisbilhotar universos alheios (alheia anda bastante a minha vida, virada do avesso, com o surgimento da moça de olhos de mar). Não deveria demonstrar surpresa ( "ora", vocês pensam," onde já se viu limbo, fumando cigarros, vendo o notíciário catastrófico e/ou parcial dos jornais, numa indiferença, quase um iceberg, supreender-se com alguma coisa que valha!!!") mas vejo que são muitas as recomendações para a moça supra citada. É alertada sobre cuidado nestes novos mares da (nova?) sexualidade, para depois fazerem alusão ao poeta: ..." mas ' Navegar é preciso, viver não é preciso' ", como quem a incentiva a correr o risco talvez mais trágico da sua vida...
Pobre dos limbos.
Vocês dizem que amar é a única tônica da vida. Por que isso não se aplica aos limbos? Se suas leis não nos inclui, por que temos que nos aplicar à elas?
Já me perdi no verde mar dos olhos da moça. Mas, não esqueçam: vocês dizem que limbos não sentem. Se, na mesma "cautela" eu pudesse me utilizar de um outro poeta, diria: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz como são violentas as margens que o reprimem".
Teria sido ( não sou?), eu, um contraste de mim mesma?
Não... sei o que sou. E só eu sei o que sinto. Não me importa que mil raios de mil nuvens recaiam sobre mim. Ela desenha seu sorriso nos meus lábios e isso simplesmente... me basta. Que esperneiem, que torçam, que gritem, que louvem.
Sim... limbos sentem. Saibam de uma vez e não menosprezem meus conceitos. Sei ser furiosa, e a única coisa de mim que vocês realmente sabem:
Sou limbo.